Magoar era uma rotina em minha vida. Mentiras, roubos e outras formas de decepção reinavam em minha vida.
Estava em recuperação em todas as matérias. Pudera, né, eu simplesmente não ia as aulas, e quando ia era pra pensar em dietas e números.
Era junho. Fazia um pouco de frio, mas não muito ainda. Eu caminhava até a parada a uma quadra de casa, ainda estava escuro. Era pouco mais de seis da manhã.
Eu vestia um moletom preto maior que eu, para disfarçar minha gordura horrível. Desde maio, perdera mais de cinco quilos, mas continuava comendo cada vez menos, e tinha passado fazer refeições sozinha. Sempre ia ao banheiro depois de comer, já por puro hábito e já desenvolvera uma forte depressão, além de ansiedade e uma síndrome do pânico fora do comum.
Eu vivia cansada, meu metabolismo não funcionava corretamente e sempre que eu podia, estava fazendo exercícios.
Eu estava me matando aos poucos. Eu parara de mestruar a três meses e passava meu tempo nos blogs que compartilhavam informações como eu.
Meu cabelo caía muito, tinha a pele desidratada e me via cada vez mais gorda.
O desespero tomara conta de mim. Eu não queria emagrecer por beleza, eu queria ser feliz. Se fosse feliz, a gordura ia ser um mero detalhe. Tinha uma frase que eu usava muito: "Emagrecer é preciso, viver não."
***
Fazia algumas semanas que Ana finalmente conseguira ultrapassar minha barreira de pedra. Isso ajudou um pouco, porque ela me ajudava a aprender, e fazia comigo os trabalhos em grupo.
O problema da amizade (ou a função dela) é que nos tornamos presas fáceis dos famosos "Tudo bem?" deles. Foi o que aconteceu.
Em três minutos contei a ela tudo o que acontecia comigo. Acabei deixando que ela lesse o que eu escrevia e ela preferiu não comentar sobre. Preferi assim.
Mas as coisas não terminaram aí.
A hora do lanche era a hora mais difícil pra mim. Todos entravam sucos, sanduíches, frituras e doces, e eu ficava na minha, torcendo pra que ninguém ouvisse minha barriga roncar.
Ana sentou do meu lado com um pacote de walfer, e me ofereceu. Neguei com a cabeça.
Ela me olhou com seu rostinho de anime, triste e eu senti uma forte dor no coração.
- Quanto tempo tá sem comer? - ela perguntou.
Dei de ombros.
- Nada? - perguntei, ela assentiu. - Uns três dias, eu acho.
Foi rápido demais,as quando tive tempo de perceber, Ana estava tentando enfiar um walfer na minha boca. Minha reação foi morder a mão dela e cuspir o biscoito longe.
Ela gemeu de dor e segurou a mão ferida. Meus dentes tinham cravado com força. Ela sangrava.
- Caraca, eu sinto muito - pedi com sinceridade. Não queria machucá-la, mas também não queria comer aquele amontoado de gordura e açucar.
Ela tinha uma tristeza terrível no olhar. Senti pena, culpa até.
- Você me ama, Fran? - ela fez a pergunta de cabeça baixa.
Não hesitei em responder a verdade.
- Amo, Ana - falei, como se ela tivesse me ofendido - Eu te provei isso, você foi a única pessoa no mundo que confiei um diário meu.
Ela segurava a mão sobre o peito, como se a mordida provasse o contrário das minhas palavras.
- Mais que sua ana? - ela me olhava nos olhos agora.
Eu baixei a cabeça, sem conseguir suportar aquele olhar tristonho.
- Não - eu mordi o lábio, sabendo que estava falando algo horrível, mas não podia mentir pra ela. - Ninguém é mais importante pra mim que ela.
Vi uma lágrima escorrer em cada olho, antes que ela virasse as costas.
***
Ver Ana daquele jeito foi uma das piores sensações da minha vida. Fiquei sentada sozinha dentro da sala, olhando a mesa como se fosse a coisa mais interessante do mundo.
Chorar para mim sempre foi difícil. Senti uma dor no peito, e parecia que só sairia através do choro ou de um vômito induzido depois de uma longa compulsão.
- O que você fez foi muito maldoso, Fran - era a voz de Amanda, uma menina loira e franzina, muito amiga de Ana. - Sabe que ela só quer te ajudar.
Fiz que sim com a cabeça, meus olhos taciturnos de tristeza.
- Sinto muito - choraminguei - Só não gosto de mentir.
- Trouxe isso pra você - ela disse, empurrando um prato com meio sanduíche pra mim. - Sei que não conseguiria comer um inteiro, mas tente pelo menos um pedaço, por Ana.
Mordi o lábio, fazendo que não com a cabeça. O que tinha dito aquela hora era a verdade. A anorexia para mim era mais importante que qualquer coisa. Não que fizesse de propósito, na verdade, preferia viver sem ela. Mas ela já fazia parte de mim. Como se sem ela, eu não existisse, não fosse eu mesma.
- Come ou vou ser obrigada a falar com a Magali.
Magali era a orientadora. Era legal, mas eu não tava a fim de falar com ela sobre isso.
- Eu não posso - reclamei.
Ela revirou os olhos.
- É claro que pode - ela falava como se fosse minha mãe - Vai logo com isso, Fran.
Peguei o sanduíche com repugnância, mordendo e olhando a garota com uma fúria assassina.
Comi metade do que ela me dera e ainda tinha fome. Ouvi ana me insultar dentro de mim, ignorei e comi o resto.
Ah, droga.
***
Não lembro como fui parar no banheiro. Só lembro que a culpa me dominou de maneira assombrosa.
Fechei a porta e escorei as costas na parede, me concentrando no meu dedo no sininho da garganta.
Sempre fui mais difícil para mim fazer aquilo. Quando criança, fiz a cirugia para retirar as amidolas, o que dificultava tudo.
Estava tentando forçar a ânsia pela quinta vez quando ouvi Amanda me procurando. Droga, droga, droga.
Percebendo o que eu estava fazendo, ela escalou a porta, para espiar o que eu fazia. Aquilo me surpreendeu.
Amanda não era qualquer uma. Ela não se importava com minha repulsa a preocupação. Ela era diferente.
- Escuta aqui, Francieli - meu nome era território proibido pra qualquer pessoa no mundo - A coisa vai ficar feia pra você.
Eu ri. Não dela, absolutamente. Ri porque a amizade que ela tinha por mim achava que eu me importava se ela fosse me bater. Eu agradeceria, na verdade, acharia merecido.
- O que houve aqui? - era tia Maria, a faxineira da escola, uma italiana divertida, mas mandona - Ela tá passando mal?
Droga, mil vezes droga.
Dei a descarga e abri a porta.
- Eu to bem - falei.
- Não tranca a porta quando passar mal - avisou Maria. Eu assenti.
O sinal bateu. Era a hora do intervalo, finalmente.
- Come ou vou ser obrigada a falar com a Magali.
Magali era a orientadora. Era legal, mas eu não tava a fim de falar com ela sobre isso.
- Eu não posso - reclamei.
Ela revirou os olhos.
- É claro que pode - ela falava como se fosse minha mãe - Vai logo com isso, Fran.
Peguei o sanduíche com repugnância, mordendo e olhando a garota com uma fúria assassina.
Comi metade do que ela me dera e ainda tinha fome. Ouvi ana me insultar dentro de mim, ignorei e comi o resto.
Ah, droga.
***
Não lembro como fui parar no banheiro. Só lembro que a culpa me dominou de maneira assombrosa.
Fechei a porta e escorei as costas na parede, me concentrando no meu dedo no sininho da garganta.
Sempre fui mais difícil para mim fazer aquilo. Quando criança, fiz a cirugia para retirar as amidolas, o que dificultava tudo.
Estava tentando forçar a ânsia pela quinta vez quando ouvi Amanda me procurando. Droga, droga, droga.
Percebendo o que eu estava fazendo, ela escalou a porta, para espiar o que eu fazia. Aquilo me surpreendeu.
Amanda não era qualquer uma. Ela não se importava com minha repulsa a preocupação. Ela era diferente.
- Escuta aqui, Francieli - meu nome era território proibido pra qualquer pessoa no mundo - A coisa vai ficar feia pra você.
Eu ri. Não dela, absolutamente. Ri porque a amizade que ela tinha por mim achava que eu me importava se ela fosse me bater. Eu agradeceria, na verdade, acharia merecido.
- O que houve aqui? - era tia Maria, a faxineira da escola, uma italiana divertida, mas mandona - Ela tá passando mal?
Droga, mil vezes droga.
Dei a descarga e abri a porta.
- Eu to bem - falei.
- Não tranca a porta quando passar mal - avisou Maria. Eu assenti.
O sinal bateu. Era a hora do intervalo, finalmente.
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