Bem-vindos ao meu mundinho encantado! :)
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terça-feira, 18 de julho de 2017

Capítulo 5 - Quando a noite vem

Passava minhas tardes lendo ou entrando nos blogs iguais ao meu. Não era o que tinha de melhor para se fazer, mas era o que eu gostava. Fazia eu esquecer a fome.
Quando escurecia, vinha a minha maior tortura. Não a fome. Isso para mim  era bom. A Insônia era minha pior inimiga.
Minha insônia não era como a da maioria. Horas "normais" acordada não faziam parte de mim. Eu apagava.
Não, não apagava de dormir.
Era mais como se eu fosse um zumbi. Passava as horas da noite sentada em cima da cama com os olhos parados e a cabeça desligada como se tivesse dormindo. Mas não estava. É claro que não descansava nem um pouco.
Era durante a noite que eu percebia meu sofrimento.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Dando sinal de vida

Prometi a um monte de gente que não voltaria pra cá, então não esperem que eu volte de vez.
Só apareci pra mostrar que não morri, que estou bem e feliz, bonita, feliz com meu peso e tudo o mais.
Ah, e casada e grávida.
Estou a dias de ver meu pequeno príncipe, e engordei só 8kgs (tdb neh), comendo normalmente, até um pouco demais como qualquer grávida...
Estou muito MUITO feliz. Tudo parece ter chegado ao final do meu conto de fadas. Casei com o principe, tudo o que eu mais quis está acontecendo agora.
Amo vocês.

Kisses
Cinderela

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Capitulo 4 - Melhor hora do dia

Se existia um único momento que me eu me tornava feliz, era a hora do intervalo.
Eu estava repetindo o primeiro ano (falta de comida estraga o racicinio, além de dar sono e lerdeza), e minha história naquela escola não foi das melhores. Talvez tenha sido por isso que tudo começou.
***
1 ano e meio antes...
Fragmentos do diário de Fran (2008)
- Que saudade tenho da minha turma da oitava. Foi a melhor escola que estudei, tanto pelo ensino, professores, colegas... Toda a turma era amiga, sem exceção.É claro que as brigas existiam, mas era como briga de irmãos. Passava em horas.
Chegar nessa escola me dá arrepios. É grande demais, tem gente demais e ninguém se conhece na minha turma.
- Eu sou tímida demais pra me aproximar de alguém. E os grupinhos se formando me dão arrepios. Nunca existiu grupinhos na minha antiga turma.
- Estamos quase em maio. Ninguém jamais olha pra mim nem dirige a palavra. Eu sinto falta de amigos aqui, o que tem de errado comigo?
- A professora de religião fez uma brincadeira hoje, que teriámos que colocar qualidades ou defeitos dos colegas. Não conhecia ninguém então apenas escrevi 'legal' em todas as folhas. Quando fui olhar a minha, foi impossível não encher os olhos d'água. Em meio de poucos 'legais' e 'timida' a palavra NOJENTA se destacava. NOJENTA.
Ninguém tenta falar comigo, ninguém se aproxima. E eles têm a cara-de-pau de falar que EU sou nojenta?
Eu os odeio.
- Fazem três meses que não apareço nas aulas. Não quero ver a cara daquela gente. Nunca mais. Hoje, como faço sempre, fui até a escola e peguei o ônibus até o centro. É lá que passo minhas manhãs.
***
2009 - Hora do intervalo
Depois disso que conheci Rebeca, que me apresentou Jéssica, Desiréè, Paula e Bruna. Essas últimas duas me fizeram chorar algumas vezes, por não me aceitarem "no grupo".
Talvez por isso tenha me apegado tanto nas outras três, que me acolheram. Comecei a ir as aulas, mas os lanches no centro tinham me feito ir dos magros 40 aos 60kg em meses. Foi aí que tudo começou.
O intervalo era a hora em que ia visitar as meninas no segundo ano. Era uma transformação instantânea. Risadas, brincadeiras e conversas sinceras eram normais ali. Elas nem mesmo desconfiavam que eu fosse triste e obcecada por magreza. Era como se eu fosse outra pessoa perto delas. Alguém feliz.
Elas eu saberia descrever. Rebeca era evangélica como eu, mas diferente. Ela tinha uma luz que irradiava a distância e um comportamento impecável. Era divertida e uma excelente amiga. Também não era muito interessada nos estudos, mas sempre tinha as notas boas. Jéssica era do tipo estudiosa, amiga ouvinte e compreensiva. E estava sempre lá quando eu precisava. Desi era irônica e séria, quase mau-humorada, mas o tipo de pessoa que faria o papel de amiga-mãe quando alguém precisasse de um sermão. Paula era quieta e calma, responsável e querida. E Bruna era mimada, irritante até, mas era estupidamente divertida.
Elas eram as únicas pessoas no mundo que sabiam do meu maior problema - a mitomania.
Antes que alguém diga que é vício de mentira: não é. Compulsão por mentiras é mentir sem parar e sobre qualquer coisa. Mitomania é quando o cérebro acredita em imaginação e sonho como fato, ou seja, eu acreditava naquilo que falava. Não quase acreditava, eu acreditava mesmo.
Jéssica, Rebeca e Desi me ajudavam como podiam. Pediam fotos de tudo o que eu fizesse, confirmações. E quando eu contava algo que descobria ser mitomania, elas sorriam e nunca ficavam bravas. Eram anjos.
Eu me tornava extrovertida perto delas, mimha timidez ia embora. Ficava maluca até. Quem me via todos os dias daquele jeito, nunca imaginaria que eu passava o resto do dia triste e pensando em números. Não as culpava não desconfiar.
Quando o sinal tocava era hora de voltar a ser a garota triste. Saía pela porta do segundo ano e a transformação acontecia outra vez.
***
Deixei o sono me pegar nos dois últimos períodos, que tinha quimica, uma matéria que até hoje não entendo. Acordei quando o sinal bateu do lado de fora.
Coloquei minha mochila nas costas automaticamente e ia saindo pra ir embora. Amanda me puxou - Vai almoçar comigo hoje - ela disse.
Franzi a testa.
- Não - falei.
- Sim - ela disse - Ou vou te seguir até em casa e esperar tua mãe pra conversar com ela.
- Você é louca? - perguntei.
Ela riu, e me puxou sem se importar. Eu bufei.
Ela foi até o centro falando sem parar ao meu lado, e eu escutava com atenção, como sempre, agradecida por não ter que falar.
Ela pediu dois sanduíches e duas cocas. Zero pra mim. Comi com nojo como se tivesse com merda na boca. Não estava brava com Amanda. Pra falar a verdade, eu sabia que ela só estava preocupada. Não sei se comigo ou com a melhor amiga dela, que estava sofrendo por mim, mas estava bem intencionada.
Ela finalmente me largou no ônibus, e assim que tirei o livro que estava lendo da mochila, meu estômago revirou e senti a comida querendo voltar.
Entrei em casa e fui direto ao banheiro, enchi um copo com água do chuveiro e tomei, sentindo a garganta arder.
Coloquei uma gota de detergente no dedo e enfiei na garganta.
Não funcionou. Nunca pode demorar tanto pra botar pra fora.
No desespero, coloquei oleo em uma volher e tomei.
Funcionou.
Foi a coisa mais maluca que já fi.
Aí que decidi pelo extremo. Liguei pra farmácia e pedi oito envelopes de laxantes.
Podia não funcionar. Mas me fazia sentir o familiar vazio.
E o vazio é bom.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Capítulo 3 - Eu decepciono

Magoar era uma rotina em minha vida. Mentiras, roubos e outras formas de decepção reinavam em minha vida.
Estava em recuperação em todas as matérias. Pudera, né, eu simplesmente não ia as aulas, e quando ia era pra pensar em dietas e números.
Era junho. Fazia um pouco de frio, mas não muito ainda. Eu caminhava até a parada a uma quadra de casa, ainda estava escuro. Era pouco mais de seis da manhã. 
Eu vestia um moletom preto maior que eu, para disfarçar minha gordura horrível. Desde maio, perdera mais de cinco quilos, mas continuava comendo cada vez menos, e tinha passado fazer refeições sozinha. Sempre ia ao banheiro depois de comer, já por puro hábito e já desenvolvera uma forte depressão, além de ansiedade e uma síndrome do pânico fora do comum.
Eu vivia cansada, meu metabolismo não funcionava corretamente e sempre que eu podia, estava fazendo exercícios.
Eu estava me matando aos poucos. Eu parara de mestruar a três meses e passava meu tempo nos blogs que compartilhavam informações como eu.
Meu cabelo caía muito, tinha a pele desidratada e me via cada vez mais gorda.
O desespero tomara conta de mim. Eu não queria emagrecer por beleza, eu queria ser feliz. Se fosse feliz, a gordura ia ser um mero detalhe. Tinha uma frase que eu usava muito: "Emagrecer é preciso, viver não."
***
Fazia algumas semanas que Ana finalmente conseguira ultrapassar minha barreira de pedra. Isso ajudou um pouco, porque ela me ajudava a aprender, e fazia comigo os trabalhos em grupo.
O problema da amizade (ou a função dela) é que nos tornamos presas fáceis dos famosos "Tudo bem?" deles. Foi o que aconteceu.
Em três minutos contei a ela tudo o que acontecia comigo. Acabei deixando que ela lesse o que eu escrevia e ela preferiu não comentar sobre. Preferi assim.
Mas as coisas não terminaram aí.
A hora do lanche era a hora mais difícil pra mim. Todos entravam sucos, sanduíches, frituras e doces, e eu ficava na minha, torcendo pra que ninguém ouvisse minha barriga roncar.
Ana sentou do meu lado com um pacote de walfer, e me ofereceu. Neguei com a cabeça.
Ela me olhou com seu rostinho de anime, triste e eu senti uma forte dor no coração.
- Quanto tempo tá sem comer? - ela perguntou.
Dei de ombros.
- Nada? - perguntei, ela assentiu. - Uns três dias, eu acho.
Foi rápido demais,as quando tive tempo de perceber, Ana estava tentando enfiar um walfer na minha boca. Minha reação foi morder a mão dela e cuspir o biscoito longe.
Ela gemeu de dor e segurou a mão ferida. Meus dentes tinham cravado com força. Ela sangrava.
- Caraca, eu sinto muito - pedi com sinceridade. Não queria machucá-la, mas também não queria comer aquele amontoado de gordura e açucar.
Ela tinha uma tristeza terrível no olhar. Senti pena, culpa até.
- Você me ama, Fran? - ela fez a pergunta de cabeça baixa. 
Não hesitei em responder a verdade.
- Amo, Ana - falei, como se ela tivesse me ofendido - Eu te provei isso, você foi a única pessoa no mundo que confiei um diário meu.
Ela segurava a mão sobre o peito, como se a mordida provasse o contrário das minhas palavras.
- Mais que sua ana? - ela me olhava nos olhos agora.
Eu baixei a cabeça, sem conseguir suportar aquele olhar tristonho.
- Não - eu mordi o lábio, sabendo que estava falando algo horrível, mas não podia mentir pra ela. - Ninguém é mais importante pra mim que ela.
Vi uma lágrima escorrer em cada olho, antes que ela virasse as costas.
***
Ver Ana daquele jeito foi uma das piores sensações da minha vida. Fiquei sentada sozinha dentro da sala, olhando a mesa como se fosse a coisa mais interessante do mundo.
Chorar para mim sempre foi difícil. Senti uma dor no peito, e parecia que só sairia através do choro ou de um vômito induzido depois de uma longa compulsão.
- O que você fez foi muito maldoso, Fran - era a voz de Amanda, uma menina loira e franzina, muito amiga de Ana. - Sabe que ela só quer te ajudar.
Fiz que sim com a cabeça, meus olhos taciturnos de tristeza.
- Sinto muito - choraminguei - Só não gosto de mentir.
- Trouxe isso pra você - ela disse, empurrando um prato com meio sanduíche pra mim. - Sei que não conseguiria comer um inteiro, mas tente pelo menos um pedaço, por Ana.
Mordi o lábio, fazendo que não com a cabeça. O que tinha dito aquela hora era a verdade. A anorexia para mim era mais importante que qualquer coisa. Não que fizesse de propósito, na verdade, preferia viver sem ela. Mas ela já fazia parte de mim. Como se sem ela, eu não existisse, não fosse eu mesma.
- Come ou vou ser obrigada a falar com a Magali.
Magali era a orientadora. Era legal, mas eu não tava a fim de falar com ela sobre isso.
- Eu não posso - reclamei.
Ela revirou os olhos.
- É claro que pode - ela falava como se fosse minha mãe - Vai logo com isso, Fran.
Peguei o sanduíche com repugnância, mordendo e olhando a garota com uma fúria assassina.
Comi metade do que ela me dera e ainda tinha fome. Ouvi ana me insultar dentro de mim, ignorei e comi o resto.
Ah, droga.
***
Não lembro como fui parar no banheiro. Só lembro que a culpa me dominou de maneira assombrosa.
Fechei a porta e escorei as costas na parede, me concentrando no meu dedo no sininho da garganta.
Sempre fui mais difícil para mim fazer aquilo. Quando criança, fiz a cirugia para retirar as amidolas, o que dificultava tudo.
Estava tentando forçar a ânsia pela quinta vez quando ouvi Amanda me procurando. Droga, droga, droga.
Percebendo o que eu estava fazendo, ela escalou a porta, para espiar o que eu fazia. Aquilo me surpreendeu.
Amanda não era qualquer uma. Ela não se importava com minha repulsa a preocupação. Ela era diferente.
- Escuta aqui, Francieli - meu nome era território proibido pra qualquer pessoa  no mundo - A coisa vai ficar feia pra você.
Eu ri. Não dela, absolutamente. Ri porque a amizade que ela tinha por mim achava que eu me importava se ela fosse me bater. Eu agradeceria, na verdade, acharia merecido.
- O que houve aqui? - era tia Maria, a faxineira da escola, uma italiana divertida, mas mandona - Ela tá passando mal?
Droga, mil vezes droga.
Dei a descarga e abri a porta.
- Eu to bem - falei.
- Não tranca a porta quando passar mal - avisou Maria. Eu assenti.
O sinal bateu. Era a hora do intervalo, finalmente.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Capítulo 2 - Cobras e calorias

Eu tinha um diário nessa época. Colocava lá toda minha rotina,  envolvendo dietas, quilos perdidos e medidas que diminuíam. -
Cheguei em casa meio fraca, olhei o espelho, que dizia o quanto eu era gorda, e deitei na cama com o livro no colo, angustiada.
Ouvi mais a vez a barriga roncar. Entrava um friozinho gostoso na janela. Sempre amei frio
 Puxei o edredom dos meus pés e abri o livro, minha parte preferida.
- Você devia comer. Sabe que precisa, não quer desmaiar ou algo assim, quer?
Era a voz de Marlon ao meu lado. Só mais um amigo imaginário. Ele aparecia quando eu precisava de um bom amigo, um bom conselho, uma "preocupação" de alguém que eu não pudesse mandar embora. Ele era meu melhor amigo. Eu achava que ele era meu anjo da guarda particular.
Não sei, eu as vezes acho que devia escutar você.
Ele riu.
- Sabe que sim. Se não comer, vão mandar você pro soro, o que não é nada bom.
- Não tenho medo de agulhas.
- Mas tem medo que descobrm você.
Engoli em seco. Ele tinha razão.
- Se eu comer 3 ou 4 bolachas...
- Não vai adiantar, sabe disso.
Dei de ombros. Claro que sabia.
Li 3 ou 4 páginas do livro, abaixei no colo e suspirei. Fiz as contas. Era quase duas horasda tarde, não comera nada hoje além da bala da Evilyn.
Segurei o diário, estacionado ao meu lado, no criado-mudo. Marquei 650kcal, contabilizando 60 da bala e 600 do almoço que eu ainda não comera.
Desci as escadas, vendo que podia cair de fraqueza a qualquer momento. Via tudo meio girando e fiz o possível pra chegar logo na cozinha. Fiz o prato contabilizando cem calorias de 2 colheres de arroz, 200kcal de um pedaço de galinha e 100kcal na salada cozida. Ótimo, só 400, pensei.
Comi devagar, mastigando o máximo possível cada garfada, sentindo nojo daquele cheiro que eu já perdera o costume de gostar.
Finalmente lavei o que tinha usado e tentei dizer a mim mesma que podia emagrecer sem colocar nada pra fora. Mas a força do hábito falou mais alto, e em minutos me vi ajoelhada em frente ao vaso sanitário, com a escova de dente na garganta, colocando pra fora o pouco que comi.
Deixei-me chorar por alguns minutos, certa de que minha vida estava sendo levada para lugar nenhum. Mas a obsessão não é algo que se livre facilmente.
***
Acordei desnorteada, sem saber o porquê dormi aquela hora da tarde. Mas é claro que era óbvio, estava sem dormir há três noites.
Tinha tido um sonho estranho. Eu estava no shopping com minha melhor amiga - ou  a que havia sido, em algum lugar remoto da infância. Ela escolhia sapatos, e eu, como nunca fui fã dessas coisas, dei atenção a uma loja de objetos diversos, e com duas cobras misturadas em cima da mesa, bem no centro da loja.
O único homem ali me entendeu. Usava um terno preto, uma gravata vermelha e era belo e elegante. Ele me sorriu e passou a me mostrar as coisas na loja, que eram simples. Relógios, fitas, DVD's e livros. Todas aquelas coisas me encantavam como se fossem barras de ouro.
- Te dou tudo isso de graça - o homem piscou um só olho - Se conseguir formar uma trança com essas cobras.
Estremeci. Nunca tive medo de cobras, mas também nunca mexi com elas. Resolvi tentar de todo o modo, afinal, valeria a pena. 
Na metade da tarefa, choraminguei e pensei em desistir. Como se soubesse, o vendedor me ofereceu ainda um anjinho de porcelana, um anel de asas e um amor.
Interessada no último prêmio, eu continuei até encontrar as cabeças, que tentavam me morder, e eu tive medo. Enfim, soltei.
- Não desiste ainda, se conseguir, além de todos os prêmios, te dou uma viagem.
Terminei a trança e fui picada pelas duas cobras.
Eu ainda não sabia, mas esse sonho bobo e maluco, era minha vida e meu futuro sendo narrado.