Liberdade

Eu queria estar livre na Semana Farroupilha.

Eu queria tanto, realmente queria com todas as forças em mim. Torna-se difícil expressar isso em palavras ou traduzir só em lágrimas.

Olho a janela e vejo as pessoas sorrindo, passeando animadas com seus amigos e guarda-chuvas. Vivendo.

Sim, é claro que isso é complicado. É como andar de mãos dadas com a solidão ou caminhar sobre linhas de uma gigante teia de aranha. Estou aprisionada em uma doença que não posso controlar, que corre no meu sangue como uma praga.

Essa doença que todos tratam como tabu, como grande castigo de Deus. E eu já convivo com ela há tanto tempo, que já a trato como uma doença crônica qualquer.

Continuo aqui, trancada nesse quarto, sobrevivendo de carinho de estranhos e tentativas de me fazer sorrir que vêm de pessoas boas. E eu sorrio, brinco e faço minhas palhaçadas, diverto crianças e adultos chorosos, deixando minha dor guardada.

Ainda não tenho forças pra sair daqui, e eu sei disso. Meu peito dói, minha cabeça dói, minha coluna dói. Mas queria estar lá no carreteiro. Queria visitar a Festa Farroupilha do Parcão - tradição familiar, jamais antes quebrada por mim - , queria ir ao aniversário da pequena que alegra meus dias - e se Deus quiser poderei fazer isso no ano que vem - e ir ao chá de bebê da minha amiga que queria tanto ir.

Queria ir embora, eu queria ir... Mas não posso.

P.S: Pra quem não sabe dia 20 de setembro é feriado no Rio Grande do Sul, em comemoração a vitória gaúcha na Guerra dos Farrapos.